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Sangue de pacientes com covid-19 mostra possíveis marcadores de gravidade.

- Saúde

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram sete proteínas presentes no plasma sanguíneo de pacientes hospitalizados por covid-19 que podem servir como indicadores de gravidade e até indicar alvos terapêuticos.

São moléculas associadas a resposta imunológica, proteção do pulmão, complicações vasculares e descontrole inflamatório (tempestade de citocinas), comuns em alguns pacientes com covid-19. A ação das proteínas e seus efeitos no agravamento da doença serão agora estudados com maior profundidade pelo grupo.

“Alterações nos níveis de proteínas do plasma sanguíneo são bons indicadores de como ocorre o desenvolvimento das doenças, inclusive infecções virais. Com a análise das variações da expressão proteica [proteômica] de pacientes hospitalizados, selecionamos sete moléculas que nos pareceram mais interessantes para serem investigadas dada a fisiopatologia da covid-19”, diz Marília Rabelo Buzalaf , pesquisadora do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP).

O estudo é parte da tese de doutorado de Daniele Castro di Flora e conta também com a colaboração de Carlos Ferreira dos Santos, diretor da FOB-USP, Deborah Maciel Cavalcanti Rosa, diretora do Hospital Estadual de Bauru, e Virginia Bodelão Richini Pereira, do Instituto Adolfo Lutz de Bauru.

Os dados preliminares foram publicados na plataforma medRxiv, ainda sem a revisão de pares. O grupo de pesquisadores é apoiado pela FAPESP por meio de um Projeto Temático e um Auxilio Regular à Pesquisa, cujos recursos foram redirecionados para o estudo da covid-19.

“Trata-se de uma enfermidade com grande variação de sintomas e de gravidade, e proteínas relacionadas a diferentes complicações e estágios da infecção podem abrir caminho para a identificação de alvos terapêuticos e biomarcadores que auxiliem a tomada de decisão por parte dos profissionais de saúde”, afirma à Agência FAPESP.

O estudo avaliou, entre 4 de maio e 4 de julho de 2020, 163 pacientes internados no Hospital Estadual de Bauru com diagnóstico confirmado de covid-19 por teste de RT-PCR. Os pacientes foram divididos em três grupos: 76 indivíduos que tiveram alta hospitalar sem internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou casos suaves, 56 que tiveram alta após permanecerem um período na UTI (casos severos) e 31 que morreram mesmo sob acompanhamento na UTI (críticos).

Ao comparar o proteoma dos três grupos, os pesquisadores observaram níveis altos das proteínas IREB2, GELS, POLR3D, PON1, SFTPD e ULBP6 apenas nos casos mais suaves.

As amostras de sangue analisadas foram coletadas no momento em que os doentes deram entrada no hospital. Também foram coletadas amostras semanais para acompanhar a evolução de cada participante. Esses dados serão analisados nas próximas etapas da pesquisa.

“A análise proteômica nos indicou uma proteína exclusiva de casos graves e críticos [Gal-10] que, uma vez validada, poderá servir como marcador de prognóstico. Outras seis foram encontradas apenas em pacientes suaves e podem nos dar pistas importantes sobre possíveis alvos terapêuticos”, diz.

No estudo, apenas pacientes que precisaram de tratamento intensivo apresentavam a proteína Gal-10 no plasma sanguíneo quando deram entrada no hospital. Trata-se de um conhecido marcador de morte de células de defesa (eosinófilos), o que sugere, de acordo com os pesquisadores, algum grau de comprometimento do sistema imune.

“Quando os eosinófilos morrem, liberam moléculas de Gal-10, que se ligam formando cristais altamente imunogênicos – cristais de Charcot-Leyden (CLCs) -, responsáveis por promover a imunidade do tipo 2 [que envolve outras subpopulações de linfócitos]. Esses cristais têm efeito pró-inflamatório importante justamente no pulmão, levando a um influxo de outras células de defesa, como neutrófilos e monócitos. O aumento de Gal-10 nos pacientes críticos e severos pode estar associado à tempestade de citocinas que leva ao descontrole da inflamação”, explica.

De acordo com a pesquisadora, um estudo recente mostrou que anticorpos contra a Gal-10 conseguem dissolver completamente os cristais presentes no muco em apenas duas horas. “No momento, estamos aguardando a chegada de reagentes para validar o aumento dessa proteína no plasma dos casos severos e críticos. Uma vez confirmado o fenômeno, anticorpos contra a Gal-10 poderão ser testados no tratamento de doentes que apresentarem alto nível dessa proteína ou de CLCs no momento da admissão hospitalar”, diz.

Outros estudos apoiados pela FAPESP identificaram marcadores de prognóstico. As proteínas S-TREM e a SAA1e SAA2, também aumentadas conforme o agravamento da doença, podem servir como um “termômetro biológico” capaz de orientar a tomada de decisão pelas equipes de saúde (leia mais em: agencia.fapesp.br/34265/ e agencia.fapesp.br/34456/).No presente estudo, as proteínas SAA1 e SAA2 também estavam aumentadas nos casos severos e críticos, confirmando os achados prévios.

Fonte: Uol.

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